Prêmio Top Blog 2011

http://www.topblog.com.br/2011/

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mais um Suspeito na Lista

A tempestade ajudou a alastrar a notícia de que Alexander estava de volta à ilha. Todos ficaram surpresos. Enquanto Alexander agarrava entre os dedos da mão esquerda a velha pena do pássaro negro, Nina segurava com delicadeza a gaita, que ela desejava ser de Pedro. Bia, ainda furiosa, buscava entre seus seios, escondido naquele sutiã azul, o bilhete de Pedro para Nina. Decidido a reencontrar seu amor, agora mais do que nunca, Pedro se preparava para sair da pousada, carregando nas mãos a garrafa de vidro que protegia a carta de amor de Nina para ele. Agora sim! Ele iria por os pingos nos is, para que pudesse se preparar para deixar novamente a ilha. Mas, o destino e os fortes ventos, que a tempestade também carregava, lhe pregaram uma peça. No corredor estreito da pousada da vila, aquela garrafa, caindo, deixava as mãos seguras de Pedro para rolar no chão, até que fosse amparada pelos pés de Ícaro. Ele se abaixou e, ao examinar melhor o objeto, não acreditou quando constatou que se tratava da mesma garrafa que estava no local do assassinato do Dr. Roberto, e que depois havia sido carregada pelas garras de um belo pássaro negro. Antes que pudesse tomar a garrafa para si, uma escuridão tomou conta do lugar. A vila estava, naquele momento, completamente sem luz, entregue à uma escuridão que arrepiou quem lá estivesse.  Esperto, Pedro arrancou a garrafa das mãos de Ícaro e no escuro correu rumo à casa de Nina. Ícaro só teve uma certeza: "Bingo! Este só pode ser o assassino do doutorzinho." Seus dentes brilharam em meio à escuridão, esboçando um sorriso de satisfação.
CS!

Outra Promessa

Nina encheu seu coração de alegria, ao ver os olhos do pai respondendo ao seu chamado. Abraçou-o ainda mais forte e disse pela primeira vez: “Pai, eu te amo!" Com uma voz rouca e quase sumida, Alexander disse: ”O que é isso? Tirem essa maluca de cima de mim. Eu não conheço essa mulher.” Um silêncio tomou conta do cômodo apertado. Só foi quebrado pelo soluço de Nina e a aproximação de Angélica: “Calma minha querida, ele está confuso. Vamos deixar que ele descanse um pouco mais." “Como assim... Descanse um pouco mais? Quem é você?  Que lugar é esse? Saiam já de perto de mim!” E, num impulso, com a pouca força que ainda tinha em seus membros, Alexander empurrou as duas, tentando levantar-se da cama. Neste momento, Ícaro interviu de maneira grosseira: “Muito bem! O maluco aqui é você, seu sumido... E veja lá como fala com as meninas. Se já está com a cabeça funcionando, pode começar a se explicar.” Alexander olhou bem fundo nos olhos de Ícaro e disse: "Se não tirar as mãos de cima de mim, acabo com você." No canto da parede, Nina ajoelhou-se e rezou. Jurou ali, aos pés da cama do pai, que, se ele se recuperasse, jamais pensaria em se encontrar com Pedro novamente. Era tudo o que tinha. Foi tudo o que conseguiu entregar. Em troca da esperança de ver seu pai bem novamente, Nina deixaria de correr atrás da chance de viver seu grande amor. Do lado de fora, o céu ficou cinza e uma forte tempestade tomou conta do lugar.
CS!

Amor ou Vingança?

Atravessando a sala de casa, Bia se jogou sobre a banqueta que ficava em frente à velha penteadeira, carregada de maquiagens baratas. Como num impulso, foi misturando cores das mais diversas... Seu rosto foi coberto com uma grossa camada de rancor e raiva. As cores vermelha e rosa, de antes, foram substituídas por tons de cinza e preto. Suas lágrimas abriram caminho no rosto moreno, deixando um sulco de pele manchada. Bia deu um soco no espelho, espatifando-o em pedacinhos. O espelho, em cacos, agora refletia a imagem de uma mulher com sede de vingança. Naquele momento, Bia jurou que se vingaria de todos, todos aqueles que um dia a fizeram sentir-se infeliz. Seu coração estava cheio de mágoa.
CS!

Despertar

Presa pelo braço forte de Ícaro, Nina, entre tropeços, acompanhava os passos largos daquele homem que já havia machucado Marina e a ela própria. A caminho do posto de atendimento da vila, Ícaro não deu uma só palavra. Nina sentiu medo e segurou forte a gaita de Pedro entre os dedos finos. Ao passar pela porta, observou Angélica de costas, segurando as mãos de um homem. Foram segundos, que pareceram mais uma eternidade, até que Nina reconhecesse e se jogasse em cima do corpo adormecido de Alexander: “Pai... Pai... Pai... Você está vivo! Eu sabia... Eu sabia que você não tinha me abandonado... Abra os olhos e fale comigo... O que aconteceu? Onde você estava? Por que sumiu por tanto tempo? Vamos, abra os olhos, fale comigo!" Neste momento, como um vulto que assombra terras abandonadas, o grande pássaro negro atravessou a pequena sala da enfermaria, assustando alguns moribundos jogados em seus leitos. Alexander então abriu os olhos.
CS!

O Mundo Dá Voltas

Como se a ilha fosse uma imensa bola redonda, enquanto Nina corria atrás de Pedro, e tendo seu trajeto  interrompido ao meio pelos braços fortes de Ícaro, Bia carregava Pedro em direção à Árvore dos Desejos. Sua paixão era tamanha que já havia esquecido os planos de vingança, que durante tantos anos alimentaram seu corpo de mulher. De todos os homens  que já a haviam tocado, Pedro era o mais especial. Ele, sim, era seu verdadeiro amor. E ela jurava que jamais iria perdê-lo novamente. Bia sabia muito bem como seduzir um homem. A caminho da Árvore dos Desejos, enquanto Pedro tentava se desvencilhar, com a cabeça na figura de Nina, seu corpo acabava cedendo aos caprichos do corpo de Bia. Entre passos, mãos ágeis corriam pelos cabelos de Pedro, e o corpo de Bia roçava em seu corpo, como se bailassem numa coreografia frenética de desejo e perdição. Fizeram amor ali mesmo, antes da chegada à Árvore dos Desejos. Enquanto seu corpo ainda se recuperava do frenesi da paixão, Pedro se levantou e em meio a um grito agonizante disse: “Chega. Você está me sufocando.... Tudo bem... Adorei te reencontrar, quanto mais assim... Você é um tesão de mulher, é minha amiga, mas, não quero mais, não posso mais. Vim aqui por acaso, mas meu coração deseja reencontrar o grande amor da minha vida, meu coração deseja rever a Nina..." "Rever a Nina", essas últimas palavras entraram nos ouvidos de Bia como uma lança que atravessa o corpo de um soldado no campo de batalha. Bia levantou-se, e seu corpo nu refletiu os raios de um sol que caminhava para se pôr bem devagar.  Passou a mão entre os cabelos fartos, como se quisesse arrumá-los, e enfiando os dedos entre os lábios, também fartos, como se lambesse os restos de um doce saboroso, Bia sorriu, estalou um beijo para o alto, juntou suas roupas coloridas e pôs-se a caminho de volta para a vila. Pedro ficou ali, de pé, parado. Apenas pensou em voz alta: “Meu Deus, o que está acontecendo comigo?”
CS!

Milagres Acontecem


As mesmas mãos que esfregaram os olhos, após receber como um presente dos deuses as cores de volta para sua vida, foram também as mãos que ampararam o corpo daquele homem maltrapilho, esticado na areia da praia. Angélica foi a primeira a reconhecer Alexander, ali, bem à sua frente. Foi durante o passeio pela praia junto com Ícaro. Com os olhos marejados de lágrimas, o corpo agachado e as palavras trêmulas, Angélica puxou Alexander para perto de si, e balbuciou devagar: “Meu querido Alexander, você está de volta! Nina será a pessoa mais feliz do mundo em saber disso. Por favor, acorde meu amigo. Bem-vindo à sua ilha.” Alexander sequer mexeu um músculo. Foi preciso que Ícaro o carregasse até o vilarejo, ainda sem acreditar, e, no fundo, bem feliz por ter parte de seu trabalho resolvido. Agora, só faltava descobrir quem havia matado o Dr. Roberto. CS!

A Volta dos Que Não Foram

Nina saiu em disparada, como se seus passos pudessem alcançar o som que aquele instrumento, que achava ser de Pedro, soprava poucos minutos atrás. Seu coração estava disparado. A simples ideia da presença de Pedro, seu Pedro, mexia com o funcionamento de todo o seu corpo. Suas pernas tremiam e o suor escorria por entre seus seios. Confusa, Nina desejou que Marina estivesse ao seu lado. Confusa, também, pensou como poderia dividir espaço em seu coração para dois grandes amores. O amor de Pedro e o amor de Marina. Numa corrida alucinante, seu sorriso largo alternava-se com um choro desesperado. Por que se sentia assim? Por que logo naquele dia em que tinha acordado tão decidida a ser feliz?  E bem próxima à ilha, em busca do paradeiro de Bia, para lhe mostrar aquele instrumento, que as duas conheciam tão bem, sua corrida foi interrompida pelos braços de Ícaro, que, com o corpo forte, entrou no caminho de Nina, como um muro que cerca as margens de uma prisão: “Menina, venha comigo, tenho algo a lhe mostrar.”
CS!

.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Som e Fúria!


Naquela manhã agitada, enquanto Angélica estava atônita por receber, "para a sua alegria", a visão em cores, o detetive Ícaro já preparava, outra vez, a papelada para um novo julgamento dos dois casos que viera resolver, desde quando pisou na areia da prainha da Ilha; o desaparecimento de Alexander e o assassinato do doutor Roberto. Iria enviar a convocação para as quatro mulheres: Nina, Bia, Angélica e Marina. Mas, ficará furioso quando souber que Marina deixara a Ilha dias antes... Ficará furioso, quando descobrir que Alexander voltara, maltrapilho e desmemoriado, sabe-se Deus vindo de onde!
Pedro, jogado aos encantos do doce balanço do corpo de Bia, ainda atordoado de amor por ter visto Nina, conhecerá, muito em breve, a fúria que habitará seu coração, quando souber que Bia carrega um filho seu, no dia em que ela lhe revelará, pois nem ela mesma ainda o sabe...
Nina, em total estado de entorpecimento, segurando a gaita de Pedro, que ela bem conhecia de cor, jurava que haveria de ficar insana se soubesse que ele estava por perto. Seu coração, tocado pela melodia que ouvira instantes antes, parecia uma locomotiva louca para saltar-lhe da boca, cujos lábios foram capazes de, num segundo mágico, sentir o gosto do último beijo de Pedro!
Alexander, estirado nas areias da praia, onde reaparecera, continuava à espera de um milagre, tendo nas mãos a pena do Pássaro Preto, que, após o bater de suas asas estonteantes, agora arqueadas, coroava sua cabeça sem memória...
O som da gaita de Pedro cobria a Ilha, que, sem ter a ideia da fúria dos deuses, ainda espreguiçava, quando a tarde adentrava, prenunciando uma grande tempestade...
Na varanda da casa de Nina, o gato “Borboleta”, reaparecido com mais uma de suas sete vidas, aguardava sua dona... Estirado no piso de madeira envelhecido, percebeu a primeira gota de chuva!
BA!